Principais ataques cibernéticos e seus prejuízos [Retrospectiva 2022]
O ano de 2022 foi marcado por diversos incidentes de segurança da informação. Ataques cibernéticos se tornaram cada vez mais frequentes e complexos, impactando várias áreas de negócios.
Tanto no Brasil quanto no mundo, os ciberataques incluíram invasão de dados, phishing, ransomware e outras ameaças clássicas com novas abordagens, mais elaboradas e personalizadas para cada alvo. Continue a leitura e conheça os principais ataques cibernéticos do ano!
Como foi o cenário de crimes cibernéticos em 2022?
Segundo dados da Fortinet, referência global em cibersegurança, só no primeiro semestre de 2022 o número de tentativas de invasão registradas no Brasil foi de 31,5 bilhões, representando aumento de 94% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O levantamento feito pela empresa também registrou aumento de ataques do tipo ransomware. Dos 384 mil registros globais, 52 mil foram destinados à América Latina, sendo o Brasil o segundo país na lista com maior número de tentativas de ataques gerais que comprometem a segurança da informação. Ocupando, inclusive, a segunda posição global segundo relatório da Sonic Wall, registrando um volume de mais de 19 milhões de ataques do tipo ransomware.
Em primeiro lugar, fica o México, seguido de Brasil, Colômbia e Peru. O número crescente de atividades ransomware é preocupante, mas está diretamente ligado ao fator de efetividade e lucratividade desse crime, pautado no sequestro de dados. Como você poderá observar, foram vários os ataques bem sucedidos.


O ransomware criptografa os dados do alvo e pede uma quantia para liberar as informações.
Além disso, dados da Eset confirmam que houve aumento no número de ataques do tipo phishing, além do refinamento da tática. Se em 2021, quase 80% das investidas eram feitas por meio de links, em 2022, 48,35% dos phishings utilizavam documentos anexados na tentativa de executar comandos em dispositivos alvo.
No geral, as ameaças se tornaram mais frequentes e mais agressivas, inclusive, houve alta no número de ofensivas a dispositivos móveis. Dentre todos os ataques de malwares para Android registrados na América Latina, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking, com 28,7% dos casos.
Principais ataques cibernéticos no Brasil
Em 2022, várias ameaças repercutiram na mídia, em especial as de ransomware. Confira os principais ataques cibernéticos que aconteceram no país.
TV Record
O ataque a um dos principais canais de televisão brasileira aconteceu no final do ano. As primeiras consequências repercutiram no dia 8 de outubro e comprometeram os sistemas de transmissão, deixando a grade de programação inacessível.
Tratava-se de um ataque do tipo ransomware, feito pelo grupo conhecido por BlackCat/AlphaVM. Como de costume nesse tipo de prática, o resgate solicitado era de US$ 5 milhões, aproximadamente R$ 25 milhões. Os desdobramentos do ataque indicam que a empresa se negou a pagar a taxa para obter acesso aos dados.


Pedido de resgate dos dados da TV Record – Foto: Reprodução/InternationalIT
Uma semana depois, o grupo criminoso começou a vazar dados da Record na deep web. Foram encontrados documentos sigilosos sobre a receita da emissora com publicidade, além de planilhas detalhadas com gastos, documentações do setor jurídico e até documentos pessoais de apresentadores.
Por maior que tenha sido a dimensão do ataque, que além de toda a documentação, se apoderou de arquivos da programação, a emissora não se pronunciou em momento algum. Esse comportamento demonstra a fragilidade e falta de preparo das empresas, inclusive de grande porte, para lidar com esse tipo de ataque.
Prefeitura do Rio de Janeiro
Mais um caso de ransomware, ocorrido na madrugada de 15 de agosto de 2022, desta vez, afetando o datacenter da Prefeitura do Rio de Janeiro. Os criminosos derrubaram diversos sistemas e redes, incluindo o Nota Carioca e o Portal Carioca Digital.
O caso foi percebido de imediato pelos funcionários e os sistemas foram desligados intencionalmente na tentativa de diminuir as consequências do ataque. A estratégia foi efetiva e a equipe conseguiu cessar a investida. Porém, o processo de verificação e recuperação dos sistemas foi lento impactando na disponibilidade das informações..
Dois meses após o ataque, a equipe do IplanRio, empresa responsável pela administração dos recursos de TI da cidade do Rio de Janeiro, ainda lidava com o restabelecimento de sistemas importantes para o cidadão.


Comunicado do site da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/Yahoo.
Por fim, o caso afetou diretamente as questões orçamentárias para o ano de 2023, que tiveram suas discussões adiadas devido à impossibilidade de acesso aos dados para estudo e deliberação de valores. Apesar dos impactos, a prefeitura do Rio agiu com responsabilidade e transparência em todo o episódio.
Agência Nacional do Petróleo (ANP)
No começo de agosto, dia 4, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) sofreu uma tentativa de ataque cibernético. Em resposta, a empresa retirou todos os sistemas do ar, para investigação e mitigação da ameaça.
Um dos serviços afetados foi o Sistema Eletrônico de Informações (SEI), que disponibiliza dados do mercado a título de transparência. O resultado foi a indisponibilidade dessas informações por quase quatro meses. Deixando todas as transações de um dos maiores setores no escuro.
Parte do sistema foi recuperada dia 14 de agosto, ainda assim, o que dependia do uso de rede continuou indisponível por mais tempo. Foi só no início de dezembro que a ANP retomou todas as suas atividades e conseguiu restabelecer a transparência de dados de mercado.
Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3)
O órgão responsável pela deliberação de processos envolvendo a União sofreu uma tentativa de sequestro de dados em 30 de março. A resposta foi a melhor possível para esse tipo de ataque: os sistemas foram desligados.
Felizmente, a medida foi feita a tempo e, segundo a desembargadora Marisa Santos, atual presidente do TRF-3, não houve nenhum comprometimento na base de dados ou vazamento de informações.
A indisponibilidade dos sistemas durou 12 dias e afetou deliberações judiciais, que precisaram ter seus prazos prorrogados. A Polícia Federal (PF) foi acionada imediatamente após o ataque, para dar sequência às investigações, junto a especialistas de cibersegurança.
Porém, nenhuma outra informação sobre o caso foi veiculada. O mais preocupante é que essa não é a primeira vez que o TRF-3 sofre um ataque cibernético. Em 2021, dois hackers conseguiram invadir o sistema e alterar documentos oficiais. O caso foi concluído e os criminosos, condenados. Já o ataque de 2022 segue em investigação.
Principais ataques cibernéticos no mundo
O cenário global atesta que as ameaças do tipo ransomware continuam sendo uma das táticas prediletas dos criminosos, mas não a única efetiva. Os ataques estão cada vez mais complexos, e a melhor resposta continua sendo apostar na prevenção e detecção. Confira a lista dos principais ataques cibernéticos no mundo!
Plataformas financeiras descentralizadas
Utilizando a tecnologia blockchain, várias plataformas financeiras descentralizadas (DeFi) surgiram para veicular as criptomoedas.
Grande parte das investidas foi direcionada a plataformas conhecidas como bridges, responsáveis pela transação de criptoativos diferentes em redes distintas, convertendo ETH em BTC, por exemplo. Nem mesmo a maior e mais protegida DeFi ficou fora dos ataques.
Em outubro, a Binance foi alvo de hackers e teve um total de US$ 570 milhões sequestrados. A plataforma conseguiu recuperar parte do dinheiro, minimizando as perdas para US$ 100 milhões. No entanto, esse não foi o único ataque.


A Binance é uma das maiores plataformas DeFi de crypto exchange.
As próprias redes DeFi também foram alvo de diversos ciberataques. A Ronin, conhecida pelo jogo Axie Infinity, perdeu US$ 625 milhões! Os criminosos se aproveitam da dificuldade de identificação de usuário na blockchain.
Táticas de mascaramento foram utilizadas para converter parte do dinheiro em Ethereum (ETC) e Bitcoin (BTC), dificultando mais ainda a identificação dos infratores. Suspeita-se que o grupo norte-coreano Lazarus tenha sido o responsável pelo ataque.
Foram mais de US$ 3 bilhões em criptomoedas desviadas em 2022 por ciberataques. É importante lembrar que além de serem tecnologias novas e, por consequência, mais propensas a ataques, o funcionamento das blockchains , permitido pelas aplicações distribuídas na WEB3, dificulta a identificação de usuários.
Da mesma forma, as DeFi não são plataformas financeiras reconhecidas pelo governo. Sendo assim, os usuários não conseguem acionar a justiça para receber seu dinheiro de volta. Todo esse cenário encoraja os cibercriminosos a agirem com afinco.
Costa Rica
O ano de 2022 não foi bom para a Costa Rica. As consequências de dois ciberataques quase consecutivos fizeram com que o presidente do país, Rodrigo Chaves, decretasse estado de emergência.


Aviso do grupo Conti sobre o vazamento de dados da Costa Rica. Foto: Reprodução/Bleeping Computer
Realizado em 17 de abril pelo grupo Conti, o primeiro ataque comprometeu quase 30 setores da alta administração do país. O grupo responsável pelo ransomware pediu um valor de US$ 10 milhões pelo resgate dos dados, que continham informações sensíveis.
Conti é conhecido, desde 2019, por ser uma organização de Ransomware as a Service agressiva, responsável por mais de 400 ataques e que, por vezes, não cumpre com o resgate dos dados.
Foi o que aconteceu no caso da Costa Rica, o pagamento foi negado e, quase um mês depois do ocorrido, o grupo vazou 672.19 GB de dados comprimidos, em fóruns da dark web. O grupo ainda emitiu uma nota ameaçadora, em que relatava que aquele era apenas um teste para ataques futuros mais orquestrados.
Em 31 de maio, o segundo ataque, de autoria do grupo Hive, focou nas informações do serviço social da Costa Rica (Caja Costarricense de Seguro Social, CCSS), forçando o desligamento de seus serviços, incluindo o Arquivo Único de Saúde Digital e o Sistema de Cobrança Centralizada.
Os sistemas continham dados médicos sensíveis de pacientes que utilizam a Previdência Social, além de informações bancárias e de seguro da população. Segundo o próprio presidente, o país enfrentou um cenário de guerra e precisou da ajuda de diversas nações para responder ao ataque.
Cash App
A Cash App, plataforma de pagamento móvel desenvolvida pela Square, foi alvo de um dos principais ataques cibernéticos internacionais. O que mais assusta, nessa ocorrência, não é a falta de cuidados com a segurança da informação, mas, sim, o quão destrutivo pode ser o fator humano, nesse caso, um ex-funcionário.


Um ex-funcionário da Cash App obteve acesso a documentos com informações sigilosas.
Mais de 8,2 milhões de usuários tiveram seus dados vazados pelo antigo colaborador, tais como:
- Nome completo;
- Números de conta de corretagem (números de identificação exclusivos associados à atividade de estoque de um cliente no Cash App Investing);
- Valores da carteira de corretagem;
- Participações da carteira de corretagem;
- Atividade de negociação de ações por um dia de negociação.
O responsável pelo vazamento obtinha acesso a todos esses dados como parte de sua rotina de trabalho. Porém, fez o download dos arquivos de forma ilegal após o desligamento de suas funções.
Mesmo após relatos de roubo de dinheiro por usuários, quando questionada sobre os impactos do vazamento das informações, a empresa apenas relatou que as investigações seriam conduzidas pelos órgãos responsáveis. Ainda, se negou a relatar valores e outros números referentes ao episódio.
Google Cloud
Em junho de 2022, a Google Cloud detectou um ataque DDoS com mais de 46 milhões de solicitações por segundo! Foi o maior ataque registrado na história, de origem na sétima camada do modelo de Interconexão de Sistemas Abertos (OSI).
A ferramenta Google Cloud Armor foi capaz de identificar e bloquear o ataque direcionado ao usuário, que permaneceu anônimo. A ação foi feita por meio da botnet Meris, responsável por um dos maiores ataques de negação de serviço da história.
Depois de analisar os principais ataques cibernéticos que aconteceram no ano, a lição que nos resta é entender que: por mais que novos frameworks e ferramentas sejam implementadas, é necessário adotar uma postura preventiva. Só assim as ameaças poderão ser mitigadas e controladas de forma efetiva.
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